Rio Madeira bate novamente mínima histórica; ribeirinhos andam a pé onde antes só existia água

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Com um volume de água tão baixo pela primeira vez na história, ribeirinhos percorrem a pé por regiões que antes eram atravessadas por barcos. Seca do rio Madeira em 2024
Edson Gabriel/Rede Amazônica
O nível do rio Madeira continua abaixando e batendo mínimas históricas. Na manhã deste sábado (7) ele chegou a 91 centímetros, a menor cota já registrada (até o momento). O novo recorde aconteceu apenas dois dias depois de o rio ficar abaixo de um metro pela primeira vez na história.
Os dados são do Serviço Geológico do Brasil, que começou a monitorar o Madeira em 1967. A seca tão extrema em meio a um período de estiagem severa é inédita.
O cenário afeta diretamente a vida de famílias ribeirinhas que viviam às margens do rio. O rio que batia na porta de casa foi secando gradativamente e se distanciando a ponto de ser necessário andar quilômetros até encontrá-lo.
Vídeos gravados por moradores da comunidade de Itapuã, cerca de 200 km de Porto Velho, mostram a realidade que as famílias enfrentam nos últimos meses. Ribeirinhos que trabalham com a produção e o escoamento de bananas, percorrem a pé por campos de areia que se formaram onde antes só existia água (assista abaixo).
Ribeirinhos andam a pé por regiões que antes eram atravessadas por barco no rio Madeira
Valdino Costa tem 35 anos e nasceu na comunidade ribeirinha de Itapuã. Desde muito jovem, trabalha com escoamento de banana e relatou que essa é a primeira vez que enfrenta uma estiagem tão severa.
Em entrevista ao g1, Valdino conta que o trabalho na região está difícil, pois com a seca do rio, as águas recuaram, abrindo espaço para grandes campos de areia. Ele explica que parte do trajeto de escoamento do produto é feito pelo rio, e como a margem das águas está distante, ele e outros produtores precisam percorrer mais do que de costume para descarregar o produto no barco.
“Trabalhamos com isso já faz muito tempo. Começamos a plantar banana há mais de 20 anos e moramos aqui na comunidade há 42. A nossa vida está complicada, é difícil percorrer essa distância carregando as caixas com as bananas”, declarou.
Outro problema que atinge as comunidades ribeirinhas é a falta de água potável. Ribeirinhos vivem com menos de 50 litros de água por dia para toda a família, a quantidade abaixo do recomendado para suprir as necessidades básicas de uma pessoa, que seria de 110 litros, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Ribeirinhos estocam água em garrafas pet durante seca
Gladson Souza/Rede Amazônica
Atualmente, existem 52 comunidades ribeirinhas em Porto Velho, às margens do rio Madeira. São quase 1,5 mil quilômetros de extensão em água doce. Ainda assim, os ribeirinhos não possuem acesso à água tratada e encanada.
Para auxiliar no tratamento da água consumida por ribeirinhos, a Defesa Civil Municipal de Porto Velho distribui kits de hipoclorito de sódio, uma substância que “limpa” a água que agora está sendo consumida pela população.
Além disso, o projeto de construção de poços artesianos em comunidades e distritos localizadas ao longo do rio Madeira continua ocorrendo. Segundo a prefeitura, o projeto é executado em parceria com o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) e visa “facilitar a distribuição de água potável” para as comunidades.
O cenário de seca na proporção de 2024 é tão inédito que para continuar acompanhando as cotas do rio, em caso de redução, o SGB precisou instalar uma nova régua que vá até 0 centímetros.
Recordes de queimadas
A seca e a estiagem vem acompanhadas de um outro grande problema: as queimadas. Em 2024, Rondônia bateu recordes. Entre janeiro e 5 de setembro foram registrados 7.282 focos: a maior quantidade dos últimos 14 anos para o período.
A última vez que o estado de Rondônia registrou uma quantidade tão significativa entre janeiro e setembro foi em 2010, com uma diferença muito pequena. Na ocasião foram identificados 7.293 focos.

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